Sobre Mamoru Hosoda

the girl who leapt through time

Fora do Japão fica difícil encontrar exemplos de longas de animação que fujam um pouco das regras do anime. Digo que é uma dificuldade enfrentada por quem está fora de lá porque imagino que um país tão tradicional e rico em produção de animação, deva produzir exemplares de todos os tipos para todos os gostos. No entanto, estando tão longe, fica difícil pescar os trabalhos mais relevantes no mar de anime que eles exportam, mesmo com a internet e todos os outros recursos que a globalização tenha trazido. Ou isso é apenas uma dificuldade particular minha e eu tô exagerando, mas vamos seguindo.

Há uns 2 anos, creio eu, o Japão perdeu um grande diretor e escritor de filmes de animação: Satoshi Kon, que dirigiu Perfect Blue, Paprika e – um dos melhores longas japoneses de animação na minha opinião – Tokyo Godfathers. Eu recebi a notícia de sua morte com um pesar imenso, já que era dos poucos diretores de animação, fora do Studio Ghibli, que me faziam aguardar ansioso pelo próximo trabalho.

Por sorte, para que eu me sentisse menos órfão, não muito antes de Satoshi Kon partir, eu conheci um diretor que é atualmente a minha resposta para quem me encurrala em busca de animações japonesas alternativas: Mamoru Hosoda. Não, ninguém nunca me encurralou procurando coisa alguma, mas tô aqui pra falar mesmo assim porque eu acho que esse cara merece.

Mamoru dirigiu alguns longas de animes famosos: dois filmes de Digimon (um dos quais ouvi falar muito bem, acredite se quiser) e um outro de One Piece. Não assisti à nenhum deles ainda. O primeiro filme dirigido por Hosoda que eu encontrei, Deus sabe como, porque eu mesmo já não me recordo, foi The Girl Who Leapt Through Time (2006), baseado no romance homônimo de  Yasutaka Tsutsui sobre uma adolescente atrapalhada que de repente se descobre com a habilidade de voltar no tempo. O filme é um primor, 5 estrelas instantâneas assim que terminei de assistir. É super bem escrito e, assim como os outros do diretor, figura no limite entre animação japonesa mais séria e anime, pesando um pouco mais pro lado mais sério, digamos assim. São detalhes pequenos, porém significativos, como os personagens críveis e a abordagem sensível e também realista sobre temas pitorescos ou surreais, que pesam pro lado interessante do filme tornando-o relevante, não apenas mais um anime facilmente esquecível.

summer wars

Summer Wars (2009), o segundo filme de Hosoda não derivado de séries de animes, é o mais próximo desse universo otaku. Conta a história de um estudante que se envolve num problema criado dentro de um jogo de realidade virtual e sua relação com a família de uma colega de classe que o convida para o aniversário de 90 anos de sua avó. É o mais surreal dos três filmes autorais de Hosoda. A temática envolvendo um jogo de realidade virtual, cujo design de cores explosivas e referências à cultura pop japonesa parece ter sido criado por Takashi Murakami, faz do filme tão atual que toda a sua extravagância se torna justificada. É diversão pura num roteiro com algumas passagens bastante corajosas. Eu, particularmente, tenho um carinho pelas cenas cotidianescas criadas por Hosoda. Em Summer Wars, os almoços e jantares em que a grande família de Natsuki se encontra toda reunida, são os momentos que mais gosto no filme.

wolf-children-height-check

Wolf Children, o último filme do diretor, lançado em 2012, conta sobre uma garota que se envolve com um lobisomem – ele paga cadeiras como ouvinte na universidade em que ela estuda – e dá a luz a duas crianças lobisomens como o pai. Ultimamente eu tenho evitado criticar um filme em comparação à outro, mas dessa vez não resistirei por razões que ficarão explícitas a seguir. Eu diria que Wolf Children é um Valente (2012) às avessas, porém, superior em tantos níveis que torna até injusta essa comparação. O filme de Mamoru aborda a transformação de entes familiares em animais para tratar da relação entre pais e filhos de uma maneira tão mais complexa e sensível do que o filme americano produzido pela Pixar, que só piora a seleção de longas de animação aptos a adentrar a categoria de melhor filme de animação no Oscar de 2013. Wolf não foi sequer considerado para a shortlist, cujo filme mais interessante era também japonês. O longa do Studio Ghibli dirigido por Goro Miyazaki, From Up on Poppy Hill, também não chegou a concorrer ao Oscar de melhor animação, que foi dado justamente a Valente, um dos filmes mais fracos lançados pela Pixar.

Uma sugestão para finalizar: prestem atenção nas locações criadas por Hosoda. Ele constrói Tóquio de uma maneira bastante real, mas com quadros desenhados em ângulos ousados que funcionam muito bem. As locações interioranas de Summer Wars e Wolf Children são igualmente belas. Especialmente as duas construções arquitetônicas de casas feudais japonesas onde a maior parte das duas histórias se passam. Sem saber se existem na realidade ou não, a vontade que dá é de correr pro Japão mesmo assim.

Orkut é last season

É difícil pra mim acreditar que um filme sobre o facebook tenha qualquer chance de ser bom, mas a verdade é que tudo sobe the social network me agrada até o momento. O poster, os teasers e agora o trailer recém-lançado. Nem a presença de Justin Timberlake me incomoda (pelo contrário). Se David Fincher conseguir fazer dessa idéia bizarra um grande filme como aponta o material de publicidade, até esqueço Benjamin Button e o declaro diretor do ano.

Pocahon… Avatar

Não há revolução.
Não há bom roteiro.
E não há muito que você, camarada cinéfilo, não tenha visto antes.

O que há, no entanto, é entretenimento. If that is what you’re looking for… enjoy!

3 estrelas pra Avatar.

Aruitemo Aruitemo

Aruitemo Aruitemo

Bem mais sensível do que o seu conterrâneo ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro, ‘Aruitemo Aruitemo’ (Still Walking) mostra a reunião de uma típica família japonesa do interior. O reencontro acontece no aniversário de morte do filho mais velho, Junpei, que morreu na tentativa de salvar um garoto de afogamento. O protagonista é o filho mais novo, Ryoto, aos 40, cansado de ser negligenciado pelos pais, que mesmo muitos anos depois da tragédia ainda supervalorizam o falecido primogênito, único da prole a seguir a profissão de médico do pai.

As diferenças, os costumes, os desconfortos, os valores e as relações são retratados com imensa delicadeza pelo diretor Hirokazu Kore-eda, mostrando aqui o cotidiano e o banquete de desapontamentos que definem o filme de forma poética, sem excessos ou maneirismos. Os planos são simples, mas bem enquadrados. E assim como em ‘Era Uma Vez em Tóquio’ de Ozu, ‘emulado’ aqui, aliás, não somente nesse quesito, apenas um deles se move. A mise-en-scène cuidadosa faz da casa tradicional, da cidade e até mesmo da culinária, personagens secundários que ajudam a contar a história. É um filme bonito do início ao fim. Só poderia acabar um pouquinho mais cedo. Alguns minutos a menos cortariam falas desnecessárias e deixariam o desfecho mais enxuto.

Os Incompreendidos

Antoine Doinel

– Seus pais dizem que você está sempre mentindo.
– Não, eu minto de vez em quando, eu acho.
Se eu disser a verdade eles ainda assim não acreditariam, então prefiro mentir.

Dentro de uma revolução narrativa, marcando a criação de um ‘gênero’, um personagem inesquecível do cinema francês: Antoine Doinel em ‘Os Incompreendidos’.

Primeiro longa de Truffaut, primeiro filme da nouvelle vague junto com ‘Acossado’ (Godard). Excelente. Parei pra pensar no quanto os diretores da atualidade tem que ralar para serem originais nos dias de hoje, já que filmes como este, feitos no final da década de 1950, ainda permanecem novos. A mensagem continua fresca e a técnica pouco retocável.

The Fantastic Mr. Anderson

The Fantastic Mr. Fox

Para novembro deste ano (nos EUA), a primeira animação do mais visionário entre os diretores do cinema ‘indepentende’ americano, Wes Anderson. Aqui um first look no stop motion baseado num livro de Roald Dahl: ‘The Fantastic Mr. Fox‘.

The Fantastic Mr. Fox

Uma das coisas mais legais do Wes Anderson é essa turma que sempre o acompanha: Bill Murray, Jason Schwartzman, Anjelica Huston, Own Wilson, Willem Dafoe, Adrian Brody… estão todos lá na lista de dubladores. A surpresa foi ver os nomes do Roman Coppola (co-roteirista junto com Anderson em ‘Viagem a Darjeeling’) e do Jarvis Cocker (vocalista do Pulp) com seus respectivos personagens na lista de elenco. Mas a cereja do sorvete, the cream of the crop, dessa vez é ninguém menos do que Meryl Streep, fazendo par com George Cloney, dublando Mrs. Fox. Perguntada sobre o porquê de ter aceito o convite para fazer parte da animação, a atriz, espertamente – como sempre -, respondeu: “Quando novamente eu poderei ser a Sra. George Clooney?”.

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A Partida

Okuribito

E já que estamos na Ásia, posto aqui um breve comentário sobre o japonês ‘A Partida’, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano.
Gerada uma certa expectativa à partir das reações pós-Oscar, onde encontrei diversos comentários positivos de surpresa com relação a sua vitória, assisti ‘A Partida’ esperando algo um pouco diferente do que costuma ser graciado pela Academia na categoria conquistada pelo filme. No entanto, o que assisti foi a mais um típico longa estrangeiro vencedor de Oscar. Não que o filme seja ruim. O plot é interessante e o roteiro se sustenta até o fim, mesmo com suas bases melodramáticas. O tom cômico entra bem em algumas cenas e o drama também funciona em outras. Então, o que realmente me incomodou? Culpo, até o momento, a direção folhetinesca de Yojiro Takita, que conduz o filme de uma forma óbvia, segura demais. A sensação no final foi de que o longa, apesar de simpático, seria facilmente esquecido por mim, mas que poderia ter funcionado com baixa expectativa. Paradoxal?

E já que estamos na Ásia, posto aqui um breve comentário sobre ‘A Partida’, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano.

Okuribito

Gerada uma certa expectativa à partir das reações pós-Oscar, onde encontrei diversos comentários positivos de surpresa com relação a sua vitória, assisti ‘A Partida’ esperando algo um pouco diferente do que costuma ser graciado pela Academia na categoria conquistada pelo filme. No entanto, o que assisti foi a mais um típico longa estrangeiro vencedor de Oscar. Não que o filme seja ruim. O plot é interessante e o roteiro se sustenta até o fim, mesmo com suas bases melodramáticas. O tom cômico entra bem em algumas cenas e o drama também funciona em outras. Então, o que realmente me incomodou? Culpo, até o momento, a direção folhetinesca de Yojiro Takita, que conduz o filme de uma forma óbvia, segura demais. A sensação no final foi de que o longa, apesar de simpático, seria facilmente esquecido por mim, mas que poderia ter funcionado com baixa expectativa. Paradoxal?

汾阳市-Natal

Jia Zhang-Ke

Há pouco mais de um mês desde que o Cineclube Natal, em parceria com a Aliança Francesa, fez uma escolha acertadíssima ao optar por exibir no auditório da escola de idiomas o filme ‘Plataforma’, do diretor chinês Jia Zhang-Ke. Digo que a escolha foi certeira porque uma semana antes, um dos cinemas da cidade havia exibido em sua sessão de arte o documentário ‘Inútil’, do mesmo diretor. Natal, então, foi prestigiada com a exibição de dois filmes de difícil acesso, realizados por um dos diretores da 6ª geração chinesa mais elogiados e aclamados mundialmente.

Jia Zhang-Ke ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2006 com o ótimo ‘Em Busca da Vida’ e desde então tem emplacado pelo menos um filme por ano em algum dos festivais de cinema mais importantes (Cannes, Veneza), seja em competição, mostras paralelas ou simplesmente em exibições especiais. Em 2007 veio ao Brasil para uma retrospectiva de sua carreira na 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No início deste ano, o jornal O Globo o definiu sabiamente como “um cronista dos efeitos da globalização (em especial, a ânsia pelo enriquecimento) sobre sua pátria.”.

Não é novidade nem a primeira vez que declaro aqui meu fascínio pelo cinama asiático, chinês de preferência. Nos filmes de Jia Zhang-Ke encontro uma realidade quase crua de um país gigante e em muitos aspectos, obviamente, desconhecido por mim. Assistir à qualquer um de seus filmes, por mais lentos e longos que possam ser, é desvendar mais e mais sobre a China. É como acrescentar verbetes enciclopédicos sobre o país em minha mente ou avançar para um terreno, até então impenetrável, de um game de aventura. Um prazer que não compartilho com muitos amigos cinéfilos e, aparentemente, com os cidadãos natalenses também não.

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Igual a Tudo na Vida

anything else

Outro dia minha irmã lembrou de mim enquanto lia um livro de crônicas da Martha Medeiros, colunista d’O Globo, chamado ‘Coisas da Vida’ (2003). Cinéfila e fã confessa de Woody Allen, Martha já dedicou várias de suas crônicas ao autor e suas obras. Nessa específica, ao filme ‘Igual a Tudo na Vida’, considerado um dos mais fracos da carreira do diretor, mas, ainda assim, apreciado pela autora e também por mim.

Mesmo tendo ciência de que certos filmes realmente não são lá grandes coisas, às vezes me deixo levar por outros fatores, além do que me foi mostrado na tela, e acabo guardando um bom sentimento com relação a algumas obras. No caso de ‘Igual a Tudo na Vida’, escolhido na locadora por ser o único do Woody em comum, não visto por quatro amigos, me deixei levar pela alegria de assistir à um filme divertido com pessoas queridas e em sintonia, rindo na mesma intensidade das mesmas piadas e se deixando afetar pelas mesmas citações life changing típicas do autor e presentes até nos longas menos importantes de sua vasta filmografia.

Ainda devo aqui no blog algo mais completo e de minha autoria sobre Woody Allen, mas, por enquanto, os deixo com a tal crônica – bastante sensível e particularmente tocante – sobre ‘Igual a Tudo na Vida’, que me fez pensar na mistura de fatores que se combinam na mente de cada um para que, afinal, se possa apreciar um filme.

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Bright indeed

Aqui o recém-lançado trailer de ‘Bright Star’, próximo longa de Jane Campion (O Piano), parte da lista dos filmes em competição da seleção oficial do Festival de Cannes desse ano.

Já vinham me chamando atenção as fotografias de divulgação do filme, mas o trailer me deixou boquiaberto com tantas imagens bonitas. Se o todo é ‘brilhante’ como o trailer só saberemos mais tarde. Porém, alguns críticos em Cannes afirmaram que sim, que ‘Bright Star’ is bright indeed:

“A film which I think could be the best of her career; an affecting and deeply considered study of the last years in the short life of John Keats.”

Peter Bradshaw, Guardian

No aguardo.